terça-feira, 5 de julho de 2016

o poema final




quatro, ponto, zero
e já desisti
até de não desistir
de tudo q'uinda
espero

não, meu caro espelho
a vida não começa aqui
como pregam os otimísticos
e, sim, como cantam as dores
às falhas do sistema límbico

aqui, o céu encontra seu desfazer
na certeza de uma absoluta
incompatibilidade com o mundo
: não sei mais viver
e esta é a luta

vejo meu filhinho
que agora já é um filhão
vejo que não o levo mais pela mão
e um abismo profundo
encerra meu caminho

um pai, o único ser
que realmente fui
pois não me via mais sozinho
ao, finalmente, me ver
em outro alguém, em outra vida

e descobri, que tal visão
de como eu poderia ter sido
poderia até mudar o que teria vivido
no entanto, eu, ainda eu, sempre seria
noites afora, buscando alguma luz do dia

ou aos abraços com a misantropia
à percussão do meu peito
orgulhoso e adolescêntrico
com saudades de sonhos que não sonhei
aos pés de pesadelos que cultivei

todavia, pelas raízes deles, preso
um pensamento surgiu, ileso
tomou a forma de um verso
depois de um não! e logo vi
eu, mesmo, e a perdida razão

vitimada pelo ilusionismo
pelos ismos das letras
e, realidade traduzida
decidi, que a tal coisa que tenho com a poesia
precisa ser, agora, rompida

quatro, ponto, zero
e abro os olhos
: enfim, estou com a palavra
e ela é apenas minha
assim como todo o horizonte nesta última linha



domingo, 13 de setembro de 2015

gripe sulina




de tudo fiz
um pouco
(atchim!)
e, é claro,
fui rimado
com louco

quasequase morri
algumas vezes
(nada raro)

por outras
vivi trancado
dentro de mim

todavia,
venci o quizz
e quando saí
achei tudo muito incrível

ao ver que a vida
é só mais uma coisa
meio que mais
que impossível



terça-feira, 7 de julho de 2015

1999





ei, olhe os ponteiros!
não posso,
vou dançar o twist...

está perdendo dinheiro!
o que é melhor
que viver triste...

amanhã tem que estar inteiro!
avise o amanhã
que ele não existe...






 

domingo, 5 de julho de 2015

ludibrium




SIM

o destino
é um 10
atino

TALVEZ

o destino
seja um ex-tino


NÃO

o destino
desexistindo
latindo

JAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAZ



segunda-feira, 23 de março de 2015

domingo, 1 de março de 2015

51




ele bebe
para esquecer
&
ela
para lembrar

(alguém vá lá
e avise os dois
que, se pararem de beber
enfim irão
se perdoar)



 

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

del ocho




meu filho está chorando
há mais de horas
e não parou

pois seu ator predileto
foi embora
da vida, hoje, passou

e não adianta dizer
que a obra ficou
que isso, ou aquilo, é certo
não quer, mesmo
saber de qualquer pose
não quer saber
de blablablá

afinal, é tão fã
que parece até
que estava lá
nos anos enta
(e mal passou dos onze)

se foi um alguém
que ele queria ser
alguém em quem botava fé
ou seja,
é uma tristeza que não se inventa
nem quase
e, soluçante,
foi deitar, se esconder
ainda repetindo uma frase
que acho que ouviu
em algum lugar
gênio não deveria morrer

gênio?
sim, não se pode negar
que a letra "o"
é a única diferença
entre chaplin
e chapolin

e gênio que é gênio
do fim, já nasce meio
que sabendo

mas no caso de El Chavo
foi, mas sem querer

querendo



terça-feira, 16 de setembro de 2014

sobre os anjos




teve um
na verdade, uma
uma anja
(e, que gata
sempre ajeitando
a franja)

que me surgiu
de repente
quando eu estava
quase deixando
que me levassem
e, trancada a porta
da frente

ela cumpriu a missão
de me manter no mando
aí, deu uma última pisada
meio torta
daquelas de quem não quer
aprender a aterrissar
e se foi daqui

ficou só uma pena
(não das asas)
de souvenir



domingo, 3 de agosto de 2014

outoninverno




o músculo errante
pelas trevas andava
sem saber
nem ao certo
como era a face
que lá procurava

batia, forte
seguindo por versos
que pareciam ser
de Dante

e quando, enfim,
a sentiu por perto
a luz o assustou
o próximo passo lhe faltou
& foi tragado por um precipício

que o condenou
ao princício
de tudo

sentiu
que era como se já pagasse
pelos pecados futuros
e foi refazendo os caminhos
abandonando cada um
dos tantos & tantos
orgulhos

se arrastou por abril
maio, junho, que quase o levou
noite vai e dia cai
noite vai e dia cai
de repente, estava em julho

e ele se viu de novo

na própria vida
sem o estorvo da ferida
sem a sombra
que sempre o trai

só então
sonhar mereceu
e mereceu se encontrar
já em agosto
já conhecendo
cada linha do rosto dela

quase a fez chorar de rir
com uma de suas tantas
tontas
histórias velhas

logo, olhos nos olhos
ele viu além do além
do que há
era o fim das andanças
e, quando ela assentiu
pôde ler, ali mesmo
no sorriso

uma carta
da própria alma
mandando lembranças

do paraíso